Para o bem de todos

Quando estudei fora de Portugal, tinha uma excelente professora de Direito Europeu. Lembro-me de uma aula em que ela disse mais ou menos isto:
 
– Já pensaram que as comunidades europeias surgiram por causa de uma dificuldade? Depois da guerra e de décadas de lutas por causa do carvão e do aço, as pessoas precisavam de paz. No fundo, a paz começou a ser construída arriscando um caminho comum; França e Alemanha decidiram juntar-se e pedir a ajuda da Itália e do BENELUX. 
 
Para nos introduzir ao complexo fenómeno europeu, a professora foi buscar uma experiência simples que todos fazemos: perante uma dificuldade, precisamos de ajuda; perante um conflito, precisamos de mediação. Existe a alternativa do isolamento, de tentarmos “safar-nos” cada um por si. É um caminho mais violento e arriscado. Sobretudo, mais triste e sombrio.
 
Tenho pensado nisto porque nas últimas semanas decidimos abrir as portas da nossa pequena comunidade escolar e deixar entrar uma dificuldade. De propósito. Existe uma pessoa que precisa de ajuda e nós temos a certeza que ajudar nos faz bem. Faz-nos bem fazer bem, claro. Mas desta vez, em vésperas de eleições europeias, o desafio ganhou outra dimensão porque percebi que o que acontece nesta pequena comunidade é o mesmo que pode contribuir para o bem comum: para o bem de cada um e para o bem de todos.
 
Se fizesse um projecto sobre a inclusão e empregabilidade de pessoas com limitações, por-me-ia a pensar o que seria justo, que valores e que critérios deveriam ser aplicados e outras questões teóricas. Válidas e consistentes, claro, mas pobres em significado existencial. Mas não é isso a política? Penso que não é só isso. As nossas portas abertas geram política porque geram o bem da pólis e porque me permitem também dialogar sobre soluções reais, sobre tentativas que nascem de uma vida e não de uma ideia.
 
Tenho pena que a UE já não se chame Comunidade Europeia. Não se trata de um saudosismo mas tenho cá para mim que só pode ser bom para a UE o que for bom para as nossas comunidades, ou seja, para o comum. 
 
Nas nossas famílias, nos nossos empregos, nas nossas associações e em todos os lugares onde nos juntamos, podemos escolher uma de duas vias: ou pensamos um projecto perfeito e tentamos implementá-lo ou arriscamos ver o que gera realmente o bem de cada pessoa, o bem comum.
 
 

Catarina Almeida