Podes sempre – Posso ir almoçar para a vossa mesa? Ouvi esta frase mais de dez vezes esta semana. A Beatriz começou e, todos os dias, um dos miúdos pedia para almoçar connosco na mesa dos adultos. A primeira tentação foi dizer que não. Aproveitamos sempre os almoços para pôr em dia alguma questão pendente que precise de ser dialogada entre nós. Mas acabámos por dizer que sim e a Beatriz veio. A segunda coisa que pensei foi aproveitar esta desejo da miúda para ver se ela dava corda à dentadura e se despachava a almoçar. “Podes mas tens que almoçar rápido senão isto e aquilo”. Mal comecei a elaborar a boa doutrina, comecei a dar-me conta que não era verdade… Lá por ela não conseguir despachar a sopa e a jardineira de carne, o desejo de estar connosco deve ser valorizado e não pode depender da capacidade que ela tem de “corresponder”. Podes. Podes sempre. Ela própria nos diz que só gosta de bolachas e chocolate, como é que há de conseguir enfrentar de uma vez por todas um prato cheio de ervilhas? Só à terceira percebi… Ela quer viver o que nós vivemos. Quer almoçar connosco porque é dentro da relação connosco que pode crescer, que pode ser grande. Ao almoço, esteve ali, a pastelar e a ouvir as nossas conversas; de vez em quando, fazia comentários hilariantes… Achava isto ou aquilo. Não lhe demos especial atenção. Ela não era o centro do nosso almoço mas estava ali, a almoçar connosco, a fazer parte do nosso almoço. Quer viver o que nós vivemos porque já se sente parte de uma história diária, onde os crescidos são realmente uma autoridade, no sentido que fazem crescer. A batalha das ervilhas é mais fácil ao pé das professoras. Nesta semana cheia do nosso cansaço de fim de 2º período, o desejo da Beatriz e dos seus amigos ajudou-me a alinhar o coração para a Páscoa que aí vem. Somos protagonistas desta história que (re)começa hoje, numa grande Ceia onde encostamos a cabeça no peito uns dos outros e esse Amor experimentado sustenta as batalhas com legumes de vária espécie. Os sacrifícios e as dificuldades estão já abraçados pela Vida que nunca acaba porque podemos sempre almoçar na Sua mesa. Catarina Almeida