Prontos para recomeçar

– Um “f” e “oz”?

– Fêoz.

– De certeza?

– Não…

– Então, um “f” e “az”?

– Faz.

– E um “f” e “ez”?

– Fez.

– E um “f” e “iz”?

– Fiz.

– Boa! E um “f” e “oz”?

– Fêoz.

 

O João desatou a chorar. Sabia bem que não era fêoz e não conseguia desemburrar o maldito “foz”.

Estava à frente dos olhos dele e era mesmo difícil juntar aquelas letras. Pior do que a dificuldade que sentia era a tristeza de não ser capaz. E, se era capaz de ler faz, fez e fiz, como era possível não ser capaz de dar o passo seguinte?

Acompanhar crianças que estão a aprender a ler ajuda muito a tomar consciência das nossas próprias tentativas de aprender a decifrar o significado de “letras” que nos desafiam todos os dias.

Dou por mim a olhar para o “f” e para o “oz” como as circunstâncias que me bloqueiam porque não as consigo ler, não sou capaz – sozinha – de encontrar o nexo que une os bocadinhos da vida que, às vezes, parecem tão fragmentados.

Ver a palavra “foz”, ler “fêoz” e saber que aquilo não faz sentido nenhum dá mesmo vontade de chorar.

Olhei para ele e disse-lhe que não se preocupasse, que eu sabia ler aquela palavra e que ia ajudá-lo a conseguir lê-la. Lá se acalmou, respirou fundo e estava pronto para recomeçar.

Eu sei ler aquela palavra tão difícil para ele mas também sei que, apesar de estarmos na lição do Z, o problema está na lição do F, que não ficou bem aprendida. É preciso dar vários passos atrás e recuperar o que não ficou bem aprendido. De repente descobrimos também que o problema é mais fundo, tem a ver com o som das consoantes que é diferente do nome que lhes damos (o “éfe” que se lê “ffffff” e não “fê” é capaz de tramar qualquer mortal…)! [E na vida, como tudo é tão parecido, o som das circunstâncias que nem sempre é o nome que lhes damos…!]

Enfim, recomeçamos juntos, certos que alguém sabe melhor do que nós o que precisamos e quer fazer esse caminho connosco.

Que alívio…!

 

Catarina Almeida