Quem és tu e o que estás aqui a fazer?

Hoje cheguei à sala do 1º Ciclo depois do intervalo da manhã…

É o primeiro dia de aulas; para muitos, o primeiro nesta Escola e, para outros, é mais um dia nesta Escola. Todos têm um olhar curioso e desejoso de ver o que vai acontecer. Os novos alunos tomam os seus lugares com uma naturalidade inesperada e os mais antigos deixam transparecer a confiança de quem já pertence àquele lugar.

Conversamos, apresento o tema do ano, o Fernando Pessoa (o senhor que está sentado ali ao pé do café), a Mensagem, lanço o desafio de ver quem decora primeiro o Mostrengo – a troco de MacDonald’s e Santini, correndo alegremente o risco de ser “anti-pedagógica”… até que um cotomiço do 1º ano, acabadinho de chegar, me interrompe e diz:

– Quem és tu e o que estás aqui a fazer?

Sem rodeios, sem cerimónias, sem segundas intenções. Só uma pergunta simples.

Ri-me, voltei a dizer o meu nome, os alunos mais velhos ajudaram a responder e o cotomiço calou-se. Longe de ver a sua curiosidade satisfeita, calou-se como quem aceita as pistas iniciais para percorrer um grande caminho onde poderá ver a sua pergunta respondida.

Graças ao cotomiço, lembrei-me que o grande caminho que hoje começamos será fascinante se mantivermos vivas as nossas perguntas. “Quem és tu e o que estás aqui a fazer?” é a posição mais adequada para um coração que deseja conhecer, que deseja crescer!

Quem és tu, amigo, colega, professor, marido, filho, que estás aqui; quem és tu escritor, artista, cientista, rei, princesa, camponês; o que estás aqui a fazer, com a tua gramática, com a tua matemática, com a tua profissão, com a tua história, com a tua música…?

Seja este o leme do nosso ano – o desejo de fazer perguntas, a vontade de interrogar as circunstâncias com que formos surpreendidos.

Bom ano a todos!

Catarina Almeida