Querem creches gratuitas?

Estamos todos de acordo: as creches escasseiam, é preciso criar mais vagas, tendencialmente gratuitas, para que as famílias possam ter filhos e uma vida equilibrada.

Este tema é mais complexo do que parece.

  1. Se é verdade que há poucas creches, é igualmente verdade que muitas delas são instituições de solidariedade que fazem das tripas coração para apoiar as famílias mais pobres. “Mas o Estado não comparticipa?”. Sim, claro. Ao mesmo tempo que comparticipa com um valor fixo por criança, define uma fórmula a aplicar aos rendimentos familiares que vem determinar o montante que a família deve suportar para a criança frequentar a Creche. Não raras vezes, a comparticipação somada ao montante que a família paga resulta num valor significativamente inferior ao que aquela criança “custa”. Eu que não sou de contas, percebo rapidamente que há aqui um problema de sustentabilidade a médio prazo. Quem paga este deficit?
    Onde quero chegar? Estamos todos de acordo, são precisas mais vagas. Mas tomemos boa nota da situação actual das creches, das que já existem e que apoiam realmente as famílias, com manobras quase mágicas para cumprir obrigações e desencantar dinheiro para sustentar esta situação.
  2. Se é verdade que são precisas mais creches, é igualmente verdade que são precisas melhores creches. As creches não são e não podem ser locais onde as crianças passam o tempo durante o dia enquanto os pais trabalham. As creches são lugares de educação, são lugares onde as crianças passam três anos, os três anos mais fundamentais da sua infância.
    Ainda bem que estamos a reflectir publicamente sobre a creche mas é fundamental dar a devida importância não só ao “fazer creches” mas também, eu diria até sobretudo, ao “como fazer creches”, “que creches queremos”.

É preciso fazer mais creches, sim. Mas é urgente apoiar as que existem!

É preciso fazer boas creches, sim. De acolhimento verdadeiro para as famílias, de estímulo adequado das crianças, de ambientes harmoniosos e equilibrados que fazem crescer.

Estaremos realmente todos de acordo?

Catarina Almeida