Se é deles, é meu

O Afonso e eu voltámos da escola, fomos aos baloiços e depois… casa porque o pai estava quase a chegar! Fomos rápidos e sentámo-nos um bocadinho à espera porque não tínhamos chaves. Às tantas o miúdo começou a apontar e dizer:
 
– O meu carro! O meu carro!
– Sim, é o carro do pai.
– É meu!
 
Eu reparei que o pai da criança estava à procura de lugar, tarefa algo demorada neste bairro. O miúdo continuava a apontar e a dizer “o meu carro” e o diálogo repetia-se igualzinho. Quando finalmente o pai da criança chegou e entreguei a encomenda, fui andando e dei por mim a pensar que o Afonso não me estava a dizer “é meu” como quem diz “não é do pai, é meu”. O que ele me queria dizer, com um ar algo intrigado, a perder a paciência por eu não o perceber, é que “se é do pai, é meu, naturalmente”.
 
Ao dar-me conta disto, voltei a pensar nas nossas “pedagogias das autonomias”. 
O Afonso tem dois anos e picos e sabe que o que é do pai, é dele. Não por direito, não por herança, mas porque a criança cresce na consciência que pode entrar no que já é do pai; pode participar na vida do pai, da mãe, das educadoras, dos tios, dos avós: “se é deles, é meu”.
 
Que responsabilidade e que alívio, ao mesmo tempo! A tarefa de qualquer educador é viver a vida sabendo a missão que lhe foi confiada. Escolher o carro, a casa, o uso do tempo, os brinquedos, os amigos, o horário de trabalho, tudo, sabendo que os nossos filhos olham para nós assim: o que é deles, é meu.
 
Tenho a certeza que escolheremos melhor os carros e educaremos melhor.
 
Catarina Almeida