Sim, minha filha!

Encontrei um episódio contado a partir de memórias de Santa Zélia Martin, mãe de Santa Teresinha do Menino Jesus…

«Quando Teresinha começou a dar os primeiros passos, tinha dificuldade em subir as escadas de casa. Então punha-se à beira do primeiro degrau e gritava: “Mamã!”, e não se mexia dali até que a mãe respondesse: “Sim, minha filha!”. Só então levantava o pezinho e superava o obstáculo. “Eram necessárias uma invocação e uma resposta de encorajamento para cada degrau“.

Esta frase não me saiu da cabeça toda a semana… Quanto mais pensava nela, mais me vinham à cabeça rostos concretos de alunos meus, que arriscam “invocar” nas modalidades mais diversas e dei por mim a pensar como lhes dou (se lhes dou!) respostas de encorajamento.

Muitas vezes, as crianças manifestam comportamentos que, independentemente da sua adequação, são apenas e só “invocações” para subir os degraus que a vida lhes vai colocando; na escola, com os amigos, em casa… tudo é ocasião de descoberta, de pedido e de pergunta. E, por isso mesmo, tudo é ocasião para crescer. É urgente responder a uma pergunta: queremos que as crianças cresçam sozinhas ou connosco?

Quantas dessas vezes, nós adultos, nos apercebemos que a criança pede a relação, pede a partilha da experiência, pede que sejamos companheiros da aventura da vida, muito mais do que instrutores de degraus… Quantas dessas vezes, olhamos para as nossas crianças e dizemos “sim, anda!”…?

É por estas – e por outras – que precisamos uns dos outros, que não queremos educar pequenos independentistas, nem iludir as nossas crianças com a ideia de que o seu valor está no que conseguem fazer, idealmente sozinhos…

É por estas – e por outras – que me revejo em Santa Teresinha. Para combater o individualismo, o independentismo, a armadilha da autossuficiência, o desafio é verificar se a nossa fragilidade e a nossa necessidade são um bem para nós e para o mundo.

Para que as crianças possam crescer livres para pedir e para perguntar, é preciso que nos vejam a nós próprios livres para pedir e para perguntar. E, às vezes, para gritar “Mamã!”, na esperança que alguém nos responda “Sim, minha filha!”…

Catarina Almeida