Sim, sou capaz de tentar!

Naquele reino distante, quando alguém magoava outra pessoa, abria-se uma porta secreta e espalhava-se no ar um pólen que não se vê mas que causa uma alergia nos olhos e faz chorar. Só as fadas conseguiam ver esse pólen porque era invisível aos olhos dos humanos. Além disso, deixa as pessoas meio adormecidas, meio acordadas, como se estivessem esvaziadas de energia e de entusiasmo.

Certo dia, as fadas fizeram o seu voo diário e repararam que todos os habitantes estavam a chorar...

Na paragem do autocarro, choravam; nos supermercados e nas lojas, choravam; nos restaurantes e nos parques, choravam.

Para que a porta se fechasse e sugasse todo o pólen novamente para dentro, era preciso que alguém decidisse fazer um gesto de amor, maior que o mal que tinha sido feito. E normalmente, as fadas davam uma mãozinha! Passaram-se dias, semanas, meses e as fadas não conseguiam resolver o problema! As pessoas estavam tão entorpecidas, que ninguém se lembrou de se reaproximar, nem de perdoar, nem de amar.

Reinava uma tristeza cada vez mais profunda, as pessoas tinham a cara inchada de tanto chorar e as fadas começaram a ficar impacientes.

Numa tarde cinzenta, estavam as fadas a voar cabisbaixas quando ouviram chamar:

– Pssssst, pssssst! Ó fadas! Sou eu, o Zé. Estou muito triste porque tratei mal um amigo e agora todo o reino chora por minha causa. E bem sabemos que tenho de ser eu a resolver isto…

– Ó Zé! E onde tens andado? Escondeste-te bem! Bom, vamos ajudar-te… Queres voltar para o teu amigo?

– Quero! Mas…

– Mas…?

– Fadas! Mas eu não sou capaz! Vou feri-lo mais mil vezes e mais outras mil! Eu quero mas não sou capaz.

– E és capaz de tentar?

O silêncio tomou conta da conversa durante alguns segundos e logo o pólen começou a desaparecer, voltaram a ouvir-se gargalhadas e o sol brilhou com muita luz no céu.

– Sim! Sou capaz de tentar!

Mal o Zé tinha decidido no coração, ainda antes de o confessar às fadas, já a porta tinha sugado todo o pólen e se tinha fechado com toda a força. Bastava afinal o desejo de amar para que a tristeza desaparecesse dos olhos, para que o choro cessasse e para que o coração voltasse a vibrar.

 

Catarina Almeida