Só existe o que acontece

Num encontro com a diocese de Roma, o Papa manifestou a sua perplexidade ao reparar que os poucos jovens procuravam tocar-lhe, dar-lhe aos mãos quando o viam, mas estavam totalmente dominados pelos telemóveis, pelas selfies. Reparou que viviam na virtualidade, desperdiçando o real, o que está a acontecer, o que se pode tocar com as mãos. 

Temos de fazer com que os jovens “aterrem” no mundo real. Toquem a realidade. Sem destruir as coisas boas que o mundo virtual pode ter, porque podem ser úteis. É importante isto: a realidade, as coisas concretas. (Papa Francisco, 14 maio 2018) 

A realidade, as coisas concretas. O que acontece. Estar ligado ao que acontece, ao que deixamos que aconteça e ao que acontece mesmo quando pensamos outra coisa, eis uma das maiores crises do nosso tempo, tão rico em interpretações e opiniões, em aparências e virtualidades que se tornam um obstáculo real à espuma que dá gosto à vida: estar ligado ao real. 

Numa conversa com um grande amigo, partilhava a dificuldade em lidar com os meus pensamentos, as minhas ideias, as minhas opiniões, quando confrontadas com os factos, que teimam em desafiar o que eu penso. Ele respondeu sabiamente: só existe o que acontece, o resto não existe. 

Para nós, educadores, este é um grande desafio: dar crédito à realidade dos factos e fazer com que as crianças e os jovens que nos são confiados “toquem a realidade”. Desde pequeninos, com os sentidos, à medida que crescem, a partir da experiência que fazem das coisas concretas, com o cuidado de submeter as teorias, as explicações, os discursos e as técnicas ao crivo da nossa própria experiência.  

Catarina Almeida