Sobrou só a alegria, por Teresa Vaz Guedes Farinha, fermento, sal, um bocadinho de água, tomate, mozzarella, orégãos, manjericão. Tudo isto nas devidas proporções, para a base e para o recheio do que, como é óbvio, iria ser uma pizza deliciosa… …E 16 mãozinhas em massa, num entusiasmo enfarinhado que não cabia na balança! Para muitas a novidade da textura, da cor e do cheiro da crueza. Entre exclamações de alegria e de perplexidade, lá iam fazendo crescer a massa no tabuleiro, experimentando e seguindo, ainda crédulas, as 2 mãos mais velhas que as guiavam. Tão bem trabalharam estas mãozinhas que, dali a nada, estava tudo preparado: a massa estendida no tabuleiro untado com azeite, a mozzarella fresca cortada às rodelas e aos quadradinhos, o tomate temperado com sal, azeite e orégãos enfim…tinha tudo para ser uma receita de sucesso! Só faltava começar a por os ingredientes em cima da massa e forno com ela!!!!! Mas os ânimos, ao contrário do forno, iam arrefecendo em forma de palavras, as quais, no jogo das rimas, teriam sido perfeitas para fojo e para portaria. O devorador apetite inicial foi dando lugar a um fastio indomável, que ia passando de mão em mão, em alta voz: -“Eu cá não vou comer isto! “ -“Isto não parece nada uma pizza”! -“Isto não tem nada bom aspecto”! Eu ia fazendo, em silêncio. Lembro-me de sorrir e de talvez ter dito “mais fica”. O fastio e as possíveis rimas não me desarmaram e o calor do forno tratou do resto. Sei que, quando o abri, as mãozinhas a abanar e alguns gritinhos abafados eram sinal de que nem tudo estava perdido!… e eis que oiço um poderoso “auuuuuuuuuuuuuuuuu” geral e o apetite de novo a bater à porta, com toda a força, arrependido de ter saído antes da hora! E fiquei tão contente! Contente, (tão), por todos terem percebido que a massa coze, que o queijo derrete, que os sabores se fundem e que os orégãos e o manjericão afinal, até sabem bem! Para finalizar, deitei um fio de azeite neste oceano de calor tão humano! De tudo, só sobrou esta alegria toda! Teresa Vaz Guedes