Sonolência algébrica… ou as situações concretas da vida. Desde o início do ano letivo que, todas as semanas, releio o texto resumo do encontro com um professor italiano, Franco Nembrini, sobre educação. O texto é tão poderoso que de cada vez que o leio descubro algo novo. Esta semana, entrou-me pela alma dentro. Esta história tem dois nomes fictícios: a professora Maria e o aluno João. Calhou-me vigiar o teste de matemática. Ao fim de 30 minutos ocorreu o facto que despoletou toda a situação. O João adormeceu em cima da secretária. Dirigi-me a ele mas, antes de chegar ao seu lado, levantou a cabeça. Estava a sonhar (só pode) porque pronunciava um texto indecifrável. Riso geral. Fui direito a ele e num tom autoritário, mandei-o levantar a cabeça, colocar-se direito e acordar. Afastei-me. O João não estava mesmo nada bem. Enviei um SMS à Maria que, prontamente foi à sala. Quando estava ao meu lado perguntou: «sabes se ele tomou o pequeno-almoço?» Não fazia a menor ideia. Fiquei no mesmo sítio e a Maria foi até junto do João. Ajoelhou-se ao lado dele. Falou pausada e calmamente. «O que se passa? Está tudo bem?». Vi o João levantar a cabeça com a mesma calma com que a Maria lhe tinha falado. Respondeu-lhe o que se passava. A Maria olhou para mim e fez-me sinal que o ia levar com ela para fora da sala. O teste do João tinha terminado ali. Assisti a tudo com uma espada cravada no coração. O professor Franco Nembrini tinha dito que «a educação é um testemunho que se vive, não são regras.». Eu tinha todo o discurso de regulamento pronto para fazer a um aluno que num teste de matemática adormece em cima da mesa. Até imaginei todo um conjunto de pressupostos pelo qual o cenário tinha ocorrido, tendo por base o historial do João. A verdade é que nunca fui capaz de ir mesmo ao fundo da questão. Olhar para o João e, como a Maria, perguntar «então rapaz, o que se passa?». Sem grandes pormenores, o João não tinha dormido naquela noite. O sono incontrolável que ele tinha não era devido a uma qualquer equação matemática ou construção geométrica. Era resultado da vida que ele tem… igual à minha ou à de qualquer outro e que nos leva a ter, em algum momento, sono. Tenho a certeza que na próxima aula com o João vai ser diferente. Vou estar muito mais atento. Espero estar acordado. José Carlos Feitor