Tele quê?, por Catarina Almeida Ontem, em conversa com outros professores e educadores, numa tentativa de nos ajudarmos a enfrentar estas circunstâncias, uma das questões abordadas com mais veemência foi: qual é, hoje, o lugar da relação professor-alunos? Num momento em que abundam bancos de recursos, plataformas didáticas, canais online gratuitos… Será indiferente quem é a pessoa que está com as crianças à descoberta das aprendizagens e do conhecimento? Terá alguma importância que as propostas sejam feitas por alguém que se estima, que se conhece, com quem se está a fazer um caminho? Falámos deste tema a propósito da tele-escola e das infinitas possibilidades de academias virtuais de que as famílias se podem socorrer. São boas ferramentas, claro!, mas estou convencida que a velha grande questão volta a estar em cima da mesa… O que desejamos para as crianças? Presencialmente ou online, o problema é sempre o mesmo. Trata-se de uma luta entre duas visões. De forma muito simplista, uns afirmam que os alunos têm que obter um conjunto de informações para aumentar o seu conhecimento e que, por isso, o professor é uma espécie de “divulgador” do conhecimento. Outros batem-se pela ideia de que as crianças constroem o seu conhecimento através da interação com o que as rodeia, seguindo os seus interesses e inclinações e, nesse sentido, o professor será um “organizador”. Ora, esta antiga discussão pode encontrar alguma luz se considerarmos os desafios colocados pela pandemia. Neste momento, as crianças e o jovens podem aceder a muito mais informação do que podiam na escola, bom não é? Neste momento, os alunos podem seguir os seus interesses e as suas preferências sem grandes condicionalismos externos, bom não é? Tudo é bom mas a verdade é que, dito apenas isto, fica a faltar o mais importante. A missão de um professor, de um educador – tal como também de um pai, de uma mãe – nasce da paixão por alguma coisa. Pode ser uma paixão pela química ou pela psicologia; pode ser um entusiasmo pelo cuidado com os mais pequenos; pode ser um encanto por ensinar as primeiras letras… Na origem da vocação de educadores, está quase sempre o ímpeto pessoalíssimo de comunicar uma paixão que se vive. É um arrebatamento que se torna dinâmico na comunicação aos outros, na partilha com os outros, normalmente com os mais novos, que se tornam os maiores companheiros porque têm perguntas, têm o olhar que nos interessa a nós, para aumentar e aprofundar o nosso próprio entusiasmo. Dão-nos vida, dizia um dos meus amigos. Os miúdos não são uns imberbes a quem vamos levar a boa nova do conhecimento… Não! O outro é sempre um lugar de encontro connosco e com o mundo que nos apaixona a partir de algum dos seus aspectos… No encontro de ontem, estávamos professores de pequenos e grandes, educadores em sentido escolar e de contextos informais, enfim… Foi uma alegria enorme redescobrir que não somos nem divulgadores nem organizadores, mas sim pessoas profundamente apaixonadas pela vida. É por isto, e só isto, que nenhuma tele-escola pode substituir: somos, adultos e crianças, companheiros de um caminho incrível… Catarina Almeida