Tenho tanta curiosidade da Terra Estejam quietos, parem, não lhe façam mal, ele é meu amigo e não me vai fritar – gritou-lhes a Menina do Mar. O polvo, o caranguejo e o peixe interromperam a pancadaria, espantadíssimos com estas palavras. O rapaz baixou-se e pôs a menina na água ao pé dos seus três amigos, que davam saltos de alegria e muitas gargalhadas. Pediu à Menina do Mar, ao polvo, ao caranguejo e ao peixe para voltarem no dia seguinte à mesma hora àquele mesmo sítio. Tenho tanta curiosidade da Terra – disse a Menina, – amanhã, quando vieres, traz-me uma coisa da terra. in A Menina do Mar, Sophia de Mello Breyner Andresen A Menina, os seus amigos e o Rapazito são mesmo muito diferentes uns dos outros. Tão diferentes que, no primeiro encontro, há pancadaria à séria… No nosso tempo, este é um tema “quente”! O desconhecido é uma ameaça! O que faz com que a Menina e o Rapazito se aproximem? O que vence a distância da diferença e do medo? É a curiosidade da terra e a curiosidade do mar. Amanhã, quando vieres, traz-me uma coisa da terra é a frase que dá o “clique”. O que nos pode aproximar uns dos outros é a mesma identidade, a mesma natureza, o mesmo desejo de conhecer – curioso é quem tem grande desejo de ver alguma coisa… Só uma abertura, só um desejo de encontro, só uma curiosidade verdadeira faz com que o desconhecido não seja incógnito mas antes um mistério que pede para ser revelado. Foi isso mesmo que vivi como peregrina em Fátima nestes dias comoventes: a abertura ao mistério que se revela através dos gestos do Papa, dos testemunhos dos Santos Francisco e Jacinta e do povo que cai aos pés de Nossa Senhora, sustento da nossa esperança. Catarina Almeida