Trata-me por tu

Nós, portugueses, temos imensas qualidades. Qualidades essas que vão desde uma enorme generosidade até à empatia que conseguimos ter com pessoas de todo o lado. Somos, por isso, abertos aos outros! Essa abertura revela-se muito no mundo empresarial e no mundo da liderança, onde precisamos de muitas das nossas qualidades como povo que depois nos fazem inovar e ser maiores do que a nossa própria dimensão.

Como ninguém é perfeito, ser português tem um lado menos positivo que se nota muito no meio onde estou inserido. Há pouco tempo, numa conversa com uma amiga, falávamos da insegurança dos portugueses, que resulta em manias que, graças a Deus, tendem a desaparecer.

A liderança espelha bem a forma como se vive numa sociedade. E uma liderança portuguesa tem um marco muito próprio. A nossa capacidade inventiva, a persistência, a generosidade e abertura, por exemplo! Mas, voltando ao início, temos também um lado inseguro que enfraquece a nossa posição. Inseguro porque reúne medos de perder a condição de líder, de ser suplantado pelo outro e de nos entregarmos por completo a um fim.

Tenho tido a sorte de algumas pessoas confiarem em mim para dar o meu testemunho em eventos de várias empresas e, por ser também treinador, tenho observado o que é ser líder em vários contextos. Escritórios de advogados, fábricas e equipas de futebol têm muito mais em comum do que se pensa. Já estive numa imobiliária que reúne o melhor dos mundos português e americano (na forma de ser e de estar) e já estive noutros mercados onde tudo se torna mais tenso.

Reparei que gostamos que nos tratem por “Sr. Dr” ou por você, por exemplo, como se isso definisse a firmeza da nossa liderança; Não gostamos de elogiar, porque isso traz consequências muito graves como a inveja de outros trabalhadores; Não perguntamos “porquê?”, visto que um líder tem de saber de tudo. E não nos podemos aproximar dos nossos subordinados, porque a posição do líder enfraquece.

São estes vícios que têm por base o medo e a insegurança e que tendem a ser eliminados porque, felizmente, há ótimos exemplos. Exemplos em que é possível conjugar as palavras liderança, amizade, critica, compaixão, firmeza, sentido de humor e seriedade. E que bom que é poder estar inserido em equipas assim.

“Walt Disney: Well, Pamela Travers! Oh, my dear gal, you can’t tell how excited I am to finally meet you…

P.L. Travers: It’s an honour, Mr. Disney.

Walt Disney: Oh, Walt, now, you gotta call me Walt.” In Saving Mr Banks (2013)

Francisco Guimarães