Tudo ficou encantado Terminámos a leitura de A Fada Oriana. O que aconteceu ao longo destes meses? Oriana prometeu à Rainha das Fadas tomar conta da floresta e fê-lo com alegria até que, com a ajuda do Peixe, descobriu a sua beleza refletida no rio. Devagarinho, foi esquecendo os seus amigos e a missão que lhe tinha sido confiada porque estava maravilhada com a imagem refletida no rio. Abandonou os moleiros, os lenhadores e até o Poeta. A Rainha das Fadas tirou-lhe a varinha e as asas e Oriana passou a ser uma menina bonita igual a tantas outras. Cheia de tristeza, palmou a cidade na tentativa de ajudar os seus amigos caídos em desgraça. Não conseguiu. A Rainha mandou-a ir à floresta ver o mal que tinha feito e ela, arrependida, implorou pelas suas asas e pela sua varinha para poder corrigir tudo. Nada mudou. Finalmente, Oriana andou e andou a caminho dos montes, pensando quão difícil era a vida dos homens que não têm asas, e viu ao longe a velha que, cega, surda e cansada, caminhava em direcção ao abismo. Gritou por ela, numa tentativa de a fazer parar, mas ela não a ouvia. Num gesto irrefletido, atirou-se ao abismo para salvar a velha, esquecendo-se que não tinha asas. De repente, num relâmpago, apareceu a Rainha das Fadas que tocou em Oriana com a sua varinha e esta ficou suspensa no ar. O final é feliz: a Rainha das Fadas devolveu-lhe as asas e a varinha porque esquecendo-te de ti, saltaste no abismo. E o teu dó pela tua amiga foi tão grande que nem te lembraste de ter medo. Porque tu és a fada Oriana a quem foram entregues as plantas, os animais e os homens da floresta. Vitória, vitória, acabou-se a história: Oriana voltou a ser uma Fada, foi buscar o filho do moleiro, o lenhador e voltaram à floresta onde a Oriana tornou a encantar tudo, na companhia do seu amigo Poeta. Mas… para que serviu a descoberta do seu reflexo no rio? De que serve agora saber que é tão bonita, se a missão de Oriana se cumpre “esquecendo-se de si”? Sophia conduziu-nos, ao longo deste meses, na consciência deste grande mistério. A natureza ferida de Oriana recorda-nos que tudo nos foi dado para cumprir uma missão: as asas e a varinha, os talentos e temperamentos, os amigos, a floresta, o trabalho, as relações e a família, as circunstâncias em que nos encontramos e… a nossa beleza. Só que a nossa beleza refletida no rio não é mais do que uma imagem desfocada da pessoa que somos. Só na relação com os amigos e, sobretudo, com o Poeta, Oriana descobre o significado da beleza que a atraiu. Enquanto que o rio mostra uma imagem refletida, a relação com os amigos e com a Rainha das Fadas revela a verdade sobre si mesma: a sua beleza, o seu ser Fada só se realiza plenamente quando encanta a noite. Para cumprir a missão que nos foi confiada, também nós precisamos de nos ver, de ver a beleza que somos. Só que essa beleza é mais verdadeira do que um mero reflexo, é-nos mostrada com profundidade por aqueles que encontramos e a quem nos damos; esses, misteriosamente, devolvem-nos as asas e a varinha, salvando-nos de morrer no abismo. Quando chegaram à floresta, o Poeta pediu: – Oriana, encanta tudo. E Oriana levantou a sua varinha de condão e tudo ficou encantado. Catarina Almeida