Um inédito movimento educativo, por Catarina Almeida Na repentina mudança a que todos fomos chamados, veio ao de cima a necessidade de responder a uma questão que poderá passar despercebida, tal é a urgência de responder ao imediato problema de “como ter as crianças em casa”. É certo que este “problema” convive e é profundamente influenciado pelas contingências em que estamos: temos que trabalhar ao mesmo tempo, conseguir comprar o que precisamos para estar 24/24h em casa, limpar, arrumar… Enfim, a vida dentro de quatro paredes e todas as suas solicitações. É impressionante ver a quantidade de ideias e sugestões que professores e educadores desembrulharam em menos de nada. Ao reparar neste inédito movimento educativo que se espalhou pelo país, vêm ao de cima algumas pistas que, a meu ver, são fundamentais para nos darmos conta da responsabilidade que temos em relação aos nossos filhos e alunos. É comovente constatar que aqueles que se dedicam profissionalmente a âmbitos educativos se empenham diariamente a continuar a comunicar com os alunos. Professores, educadores, auxiliares, psicólogos… Ainda não encontrei um só educador (em sentido lato) que esteja confortavelmente no sofá a ver televisão. Todos estão a pensar e repensar modalidades e conteúdos que lhes permitam manter a relação educativa com os mais novos. As escolas reorganizaram-se num abrir e fechar de olhos e encontraram canais que permitam a comunicação e a continuidade das aprendizagens. Aqui se vê, desde logo, que Hannah Arendt tinha razão quando afirmava que “uma crise obriga-nos a voltar às questões essenciais e exige de nós respostas novas ou velhas”. Ao abrir o meu mural do Facebook, páginas de Instagram ou websites, encontro pessoas desejosas de continuar a comunicar a experiência que fazem: educadoras que contam histórias, que se predispõem a estar em directo com os alunos, a fazer ginástica, experiências, exercícios de matemática ou de gramática. Por outro lado, vemos crianças e jovens empenhados e famílias a sacrificar meios e recursos para que os filhos possam viver esta nova circunstância “ligados” a alguma coisa que os continua a fazer crescer. Eu não sei se vai ficar tudo bem. Confesso que não consigo dizer essa frase aos meus alunos, às famílias e aos educadores com quem trabalho. No entanto, ao ver este “inédito movimento educativo”, digo-lhes com muita certeza que já está tudo bem. Não porque vai “correr tudo bem”, isso não sei e desafio qualquer pessoa a pensar se é capaz de o afirmar a partir de uma qualquer certeza. Desafio os educadores a pensar se é realmente isso que querem dizer aos seus filhos e alunos. Que vai correr tudo bem. Como se fosse suficiente fecharmos os olhos e tapar o nariz até a vida passar. A vida está a acontecer agora, cheia de episódios contraditórios e dramáticos. E é exactamente dentro deste “agora”, que nos está a a encostar à parede, que uma das coisas mais impressionantes foi encontrar professores e educadores de mão cheia, a testemunhar a nobreza da sua missão. Falamos muitas vezes em oferecer aos mais novos uma hipótese de significado para a vida. Pois bem, a hipótese que os educadores portugueses estão a mostrar não é que “vai ficar tudo bem”, mas antes que está tudo bem agora, mesmo dentro das dificuldades e dos obstáculos que encontramos. Obrigada educadores! Catarina Almeida