Um misterioso acontecimento, por Catarina Almeida Todos os anos acontece a mesma coisa. Aliás, se for ao arquivo, devo ter mais de dez textos sobre isto. Mas se sucede novamente, porque não dedicar mais algum tempo a este misterioso acontecimento? Tenho alguns alunos no 4º ano que andam na mesma escola desde bebés. Há mais de sete, oito anos que, no final de novembro, nos vêem apressar estrelas e cabanas, cantar sempre as mesmas músicas e contar a mesma história. Eles já sabem que montamos o Presépio; umas vezes fazemos as figuras de barro na sala de aula, outra vezes pedimos às famílias que dêem asas à imaginação em casa, mas as personagens são sempre as mesmas: Maria, José, o Menino, o burro, a vaca, os pastores, as lavadeiras, as estrelas, as ovelhas, enfim… Semana após semana, que passam ao ritmo de mais uma vela que se acende à segunda-feira de manhã, tudo acontece como um caminho até àquela gruta, ou cabana, ou estábulo, ou até àquela Igreja onde fazemos um Presépio Vivo e Cantado, para festejar juntos o acontecimento mais misterioso da história. O Deus que se fez pequenino para vir para o pé de nós. Mesmo para o pé de nós, para não mais nos abandonar. Este ano, os meus alunos do 4º ano vibraram como da primeira vez. E da segunda e da terceira. Como se fosse novo. Aliás, era novo. Era novo porque estava a acontecer outra vez e, por isso, estavam certos de que aquele significado, aquela alegria, aquela vibração voltaria a dar-se nos seus corações. Para as crianças, é evidente que o caminho para chegar até ao Natal não depende do que já sabemos, das informações que já temos ou da cronologia dos episódios. Para as crianças, é evidente que se trata de um acontecimento que se renova, que tem espessura e voz, que está ali, mais uma vez. Este ano, comovi-me com os meus crescidos do 4º ano, que narraram compenetradamente e cantaram maravilhosamente, mas os seus olhos brilharam como da primeira vez em que estavam vestidos de anjos e os levámos ao colo até ao Presépio. Quando for grande, quero ser como eles. Possamos nós olhar assim, renovados porque desejosos de ser encontrados pela Vida que acontece. Bom Natal! Catarina Almeida