Uma história sempre nova Levante a mão quem nunca se interrogou sobre o mistério cósmico do fascínio que as crianças têm em ver o mesmo filme e ouvir a mesma história duzentas vezes! Pois bem, este episódio que vos vou contar não é novidade para ninguém. O guião é simples: duas salas de pré-escolar, a história do Pedro e o Lobo, contada a rimar, contada em inglês, contada com os instrumentos da orquestra, dramatizada, feita com fantoches, enfim… já sabemos de cor e eles também. Mas adivinhem… – Meninos, o que vamos fazer hoje? – O Pedro e o Lobooooooooo…. Querem sempre o Pedro e o Lobo. Tenho a certeza que há dezenas de teses sobre este aspecto curioso das crianças que deliram com a repetição. Não é esse o meu problema. Dei por mim a pensar que há aqui alguma coisa que nos pode servir de ajuda, a nós adultos, tão propensos ao aborrecimento, tão sedentos de uma novidade que não chega nunca, tão desiludidos quando a rotina e a repetição dos dias parece ser um peso insuportável. Pus-me a observar os miúdos. O mais extraordinário é que se riem à brava com a piada que já sabem de cor. Riem-se genuinamente. E porquê? Só encontro uma explicação… É que para as crianças, só interessa o presente. Só interessa o agora. O que está a acontecer agora. E aquela história volta a acontecer, igualzinha, sem tirar nem por, mas é sempre nova. É nova porque está a acontecer de novo, tem uma vida nova porque acontece outra vez. E de cada vez que acontece, tem potencial de descoberta, há alguma coisa para mim, tem algo de novo para me dizer a mim. Trata-se de um diálogo com o que está a acontecer, que volta a falar comigo e, nessa medida, é sempre novo. O Papa Francisco disse nas JMJ do Panamá que os jovens não são o futuro, são o agora; disse também que a vida é uma promessa para o presente e não um entretanto à espera do futuro. Pois bem, para as crianças, isto é muito evidente. E para nós? Dizia alguém há uns tempos, que “fora deste agora não existe nada”. Possamos nós amar o agora, amar o presente porque é o que está a acontecer, é a única coisa que existe. Catarina Almeida