Uma história triste

– É uma história triste…
– Triste?!?! – perguntei eu em nervos.
 
Vai na volta e os miúdos não compreenderam O Gigante Egoísta. E agora?
 
 Sim, fiquei triste quando o Gigante morreu…
– E o Gigante estava triste?
– Sim mas também estava alegre. Morreu alegre. 
– E, mesmo assim, achas que é uma história triste?
– Sim, acho. 
 
Fiquei mesmo surpreendida com a miúda. Para ela não eram coisas contraditórias: a história é triste e ele morreu alegre. É triste porque morreu e é alegre porque o Menino lhe mostrou as feridas do Amor e lhe disse que o levaria para o seu jardim, “que é o Paraíso”. Fim de citação da pequena criança de cinco anos.
 
Até fiquei um bocadinho envergonhada… Eu estava mais preocupada com o “tcharã” colado a cuspo no fim da história: ah e tal o jardim, o Inverno, voltam as crianças, o Gigante deixa de ser egoísta, o Menino volta para o buscar e levar consigo para o Paraíso. Como se a história fosse redondinha, happy ending e pronto. Como se o “a moral da história” arrumadinha fosse a única coisa que interessa…
 
Ainda bem que a miúda compreendeu a história. E compreendeu-a melhor que eu, que já me tinha esquecido que a vida é triste e alegre. Que a vinda do Menino vence a tristeza com a alegria mas não a faz desaparecer por magia; aliás, abraça esta tristeza, carrega-a, sofre com ela, a caminho da Alegria do Seu jardim, que é o Paraíso.
 
E nós, enquanto estamos por aqui no jardim do Gigante, estamos tristes e alegres, à espera que ele volte amanhã, porque o queremos ver, porque a nossa vida é um caminho para o jardim daquele Menino.

 

Catarina Almeida