Ver para crer Com o passar dos anos vamos ficando cada vez mais desconfiados: dos amigos, dos familiares e, em último caso, desconfiados do que nós próprios temos para oferecer. Costumo cair várias vezes nessa tentação. É preciso que algo aconteça porque, se estivermos bem atentos, vamos ver a riqueza que é viver com os outros ao nosso lado. Esta semana, num dos intervalos da manhã, fui beber um café (sempre cheio de adolescentes a falar dos seus desafios quotidianos ou das aventuras da semana anterior, com os decibéis bem elevados). No meio do caos avistei o Francisco. Enquanto ele se dirigia para mim pensei: vou convidá-lo para me ajudar na Feira da Ciência. Nos segundos que ele demorou a chegar ao meu lado passaram pelo minha cabeça milhares de desculpas que o Francisco iria dar para não aceitar o convite: exames nacionais, desporto, trabalhos de matemática, leituras de português, exercícios de química e de biologia, não apetece… – Francisco, queria fazer-te uma proposta. Gostava imenso de fazer o Concurso das Grandes Personalidades Portuguesas – Cientistas do século XX. O que achas? – Acho espetacular. O Professor quer que nós organizemos? Consigo juntar mais três ou quatro e organizamos isso. O que lhe parece? Sai do café, de sorriso na cara, cheio daquele miúdo que desmanchou totalmente a minha desconfiança e me fez reparar, no final da semana, que é possível viver assim. José Feitor