Um pai de verdade, por Catarina Almeida

Hoje faz anos o meu pai e é um bom dia para lembrar que… é mesmo bom ter um pai!

Podia fazer como quando somos pequeninos e nos pedem para descrever o pai… Normalmente dizemos “é alto, trabalha muito e brinca comigo”. Eu respondia sempre isso e desenhava um espeto na vertical com uma farta cabeleira e uns rabiscos a lembrar pés e mãos.

O meu pai é alto, realmente, mas descobri que não é assim tão alto como eu achava.

O meu pai trabalha mas não assim tanto como eu achava.

O meu pai brinca imenso mas cada vez menos comigo… Brinca mais com os netos.

É disso que quero falar hoje – e aproveito como presente de anos para o meu pai.

[Costumo dar um livro. Hoje leva um papiro da filha mais velha “e já goza”…]

O meu pai não é tão alto como eu achava, não trabalha tanto como eu pensava, nem brinca tanto comigo como dantes. Isto acontece exactamente porque o meu pai é um pai de verdade. Daqueles que fazem cada vez mais falta hoje, daqueles que fazem com que os filhos cresçam e sejam pessoas grandes e felizes, como somos eu e as minhas irmãs.

O meu pai não é perfeito, não fez tudo bem – nem fez, nem faz!

O meu pai não sabe tudo (isto só descobri mais tarde!…) nem tem sempre razão (isto sempre soube porque normalmente tenho eu).

O meu pai não faz tudo como eu acho que deveria fazer.

O meu pai não foi sempre justo, nem foi irrepreensível, nem foi o super-pai.

O meu pai É um grande pai. Porquê? Porque vive. E vive com um desejo enorme de bem, de beleza, de ser feliz. Às vezes, vai por caminhos que me fazem rir; outras vezes, que me fazem chorar. Mas quando somos quase tão altos, trabalhamos quase tanto e brincamos uns com os outros, se temos um pai de verdade, começamos a abandonar com uma certa ironia a ideia romântica que tínhamos dos nossos pais: totalmente perfeitos ou totalmente imperfeitos. Nada disso.

O meu pai é um grande pai porque está consciente de ser filho e de ser pai.

Quase a chegar aos sessenta anos, senta-se ao meu lado para beber um café na praia e, na companhia de um fenomenal sol de inverno, desata a contar todas as coisas bonitas e boas que lhe aconteceram nos últimos dias. E depois conta outras, mais dolorosas, e sorri, com aquela tristeza de quem sabe de onde vem e para onde vai. Agradece o café e pira-se porque tem outras coisas para fazer.

O meu pai fez e faz coisas maravilhosas e outras nem por isso. Mas nada disso conta para ser um grande pai. Só conta o seu coração desejoso de mais e mais e a seriedade com que vive. Que não é coerência, nem precisa de ser.

Para ser um grande pai, só é preciso ser filho – como foi e é – e querer viver intensamente. Assim os filhos crescem protagonistas de uma vida feliz, ainda que cheia de dores, porque veem que a vida acontece assim mesmo, dentro de um abraço nas alegrias e nas tristezas, nas pequenezas e nas grandezas.

Parabéns Pai!

Catarina Almeida